quarta-feira, 16 de março de 2011

La hoja de Coca

Olá! Vamos falar de cultura, história, religiosidade, crença, política e saúde? Então podemos falar sobre a folha de coca – tema polêmico que insere os costumes e hábitos dos povos andinos em questões políticas de ordem internacional.

Foto retirada do álbum de uma colega que já viajou para Machu Picchu,
 a Tati. De acordo com o que ela me contou, o gosto do chá de coca não
 é muito agradável, mas para amenizar os efeitos da altitude é
extremamente necessário! Estou ansiosa para sentir o gostinho desse chá!

 Estudos arqueológicos afirmam que a folha de coca está presente nos costumes dos povos andinos há aproximadamente 8 mil anos, portanto é um hábito muito anterior à conquista européia.  Entretanto, utilizadas em rituais sagrados, as folhas de coca não eram acessíveis a toda a população: os Incas restringiam o acesso à planta apenas aos nobres e sacerdotes. O uso ritualístico da folha perdura ainda hoje e, além disso, ela é também utilizada para amenizar os efeitos da altitude e da fome.
 Seja no hábito de tomar o chá de coca ou pelo hábito de mascar a folha de coca, a planta faz parte do cotidiano dos povos andinos. É importante afirmar que a folha de coca não é droga: ela é, sim, utilizada no preparo da cocaína, que é uma droga e é ilegal no Peru, mas ela tem vários outros nutrientes de até mesmo grande valor nutricional. Rotineiramente, os viajantes bebem o mate de coca ou o chá de coca para aliviar os efeitos da altitude – o soroche ( o mal da altitude ), que pode causar náuseas, dor de cabeça e tonturas decorrentes da escassez de oxigênio em altitudes elevadas.
Nas minhas pesquisas para o post, eu li acerca de uma proposta de proibir o cultivo  e uso da folha de coca nos países andinos,  como uma forma de dificultar a fabricação,o tráfico e uso da cocaína nos demais países ( principalmente nos Estados Unidos ): essa é uma visão unilateral do problema das drogas e interfere  numa cultura de milhares de anos, portanto, fere os direitos de um povo. Uma alternativa seria o governo peruano controlar quantitativamente o plantio, mas não proibir.
A leitura dessa lenda abaixo é bastante interessante, visto que nos faz refletir sobre a questão da coca na cultura andina e a relação da folha de coca com outras culturas.
“Um sacerdote iluminado, chamado Khana Chuyma, que vivia em uma ilha no Lago Titicaca, era o guardião do tesouro do Deus Sol. Ao ver que os conquistadores espanhóis iam dominá-lo, o sacerdote jogou o tesouro no lago para evitar que fosse roubado. Capturado pelos espanhóis, o sacerdote resistiu às cruéis torturas sem dizer uma única palavra sobre a localização do tesouro e foi, finalmente, libertado para então morrer.
Naquela mesma noite, em grande agonia, o sacerdote foi visitado pelo Deus Sol que lhe disse: “Meu filho, você merece ser recompensado pelo seu enorme sacrifício. Faça qualquer pedido e eu irei realizá-lo.” “Oh, meu grande deus”, respondeu o sacerdote, “o que poderia pedir em tempos de dor e derrota como esse se não a vitória do meu povo e a expulsão dos invasores?”
O Deus Sol respondeu: "O que me pede é impossível. Não tenho poderes contra o inimigo. O deus deles me venceu e agora devo fugir e me esconder entre os mistérios do tempo. Porém, antes de deixá-lo, gostaria de  conceder-lhe algo sobre o qual tenho poderes". O sacerdote respondeu pedindo por algo que os ajudasse a suportar a escravidão e a vida dura que o esperava – algo que não era ouro. O  Deus do sol lhe mostrou a planta de coca e disse: "Diga a seu povo para cultivar essa planta com carinho e colher suas folhas. Após secas, as folhas devem ser mascadas para que seu suco alivie seu sofrimento. Quando se sentirem exaustos de seu destino essa planta lhes dará nova vitalidade. Em suas jornadas através das terras altas, a coca irá aliviar sua fome e frio, tornando a viagem mais tolerável. Nas minas onde serão forçados a trabalhar o terror e a escuridão dos túneis será insuportável sem a ajuda desta planta.
Quando quiserem olhar para o futuro, uma mão cheia de folhas jogadas ao vento revelarão os mistérios do destino, mas enquanto essa planta significará força, saúde e vida para seu povo ela será maldição para os estrangeiros. Quando eles tentarem explorar suas virtudes, a coca irá destruí-los. O que para seu povo servirá de alimento, para os invasores criará conflito e morte".
No trabalho nas minas, no período da dominação espanhola na América, a folha de coca assumiu um papel muito importante para a Coroa e a Igreja Católica, visto que, além de elevar o rendimento do trabalho dos nativos, proporcionou uma fonte de riquezas para os dominantes europeus com a criação de tributos sobre a planta. Além disso, é interessante aprofundar na relação da Igreja Católica com a folha de coca, pois a princípio a Igreja proibiu o uso da planta, alegando que esta possuía poderes satânicos, contudo, visando a maior produção de metais nas minas e, conseqüentemente, mais riquezas para a Igreja, permitiu o uso da folha.

Além da utilizaçao da folha de coca para amenizar os efeitos da altitude e da fome, a planta também detém um significado místico na cultura andina: está presente em rituais xamânicos, como representado na imagem acima.

 Em La Paz, na Bolívia, existe o Museu da Coca, que expõe toda a história da folha de coca - deve ser muito interessante visitá-lo. Este é o link do museu: http://www.cocamuseum.com/main.htm .
É importante salientar que a legislação brasileira proíbe a entrada de folhas de coca em terrtório nacional, embora alguns viajantes tenham relatado que conseguiram entrar  normalmente com folhinhas ( em pouquíssima quantidade ), balinhas e mate de coca industrializado aqui no Brasil. Cuidado para não terem problemas com a Polícia Federal, hein!
 Ansiosa para chegar a data da tão sonhada viagem, fico por aqui! AbraçOs a todos!!